2 de setembro de 2009

Do luxo ao lixo: a prostituição como política
pública


Conhecida popularmente como “a mais antiga profissão do mundo”, a prostituição já se estabelecia no tecido social urbano desde a Idade Média. As profissionais do sexo tinham um papel social que se sobrepunha a das próprias esposas: as concubinas eram as acompanhantes dos nobres em eventos da corte. Eram mulheres sempre belas e educadas, enquanto as esposas se dedicavam aos cuidados da casa e à educação dos filhos.

Santo Agostinho via-a como um mal necessário, algo cuja existência tornava possível manter padrões sexuais e sociais estáveis para o resto da sociedade. Para ele, se as prostitutas fossem expulsas da sociedade, tudo estaria desorganizado em função dos desejos. Hoje as profissionais do sexo, organizadas através de associações ou amparadas por organizações não-governamentais, travam lutas severas em favor da regulamentação de sua profissão e contra marginalização, preconceito e exploração sexual. Colaborei em uma pesquisa intitulada “Desvendando o trabalho das profissionais do sexo: pelas esquinas, ruas e bares”, realizada com prostitutas na cidade de Campina Grande-PB e pude perceber o quanto essas mulheres “pagam” para conseguir seu sustento.


Geralmente seus locais de trabalho apresentam condições insalubres de segurança e higiene. A atividade é paradoxal. Ao mesmo tempo em que propicia um recurso para o sustento (às vezes até um prato de comida), o cliente também é temido por ser alguém estranho e perigoso. As marcas da violência ficam impressas no seu corpo e na sua alma. O risco de contrair doenças sexualmente transmissíveis é presente quando os clientes se negam a usar preservativos, ou tentam negociar o valor de um programa inseguro. O abuso de álcool e de drogas ilícitas também se faz presente nesses ambientes marginalizados.


As políticas liberais transformaram-na em um problema de saúde pública. A desigualdade social, a falta de emprego e de oportunidade, a violência e a desestruturação da família se destacam na influência ao recurso da prostituição. É cada vez mais comum, mães solteiras e/ou divorciadas (muitas vezes adolescentes) com os filhos pequenos, desempregadas, sem o apoio familiar e sem perspectivas recorrerem ao comércio sexual de fantasias e desejos. É preciso um olhar político não marginalizante sobre a realidade em que vivemos e a adoção de políticas públicas que escaneiem as situações e identifiquem soluções e indiquem alternativas para mulheres nesse quadro.

Ulisses Nascimento, graduando do 8° período em Psicologia pela Universidade Estadual da Paraíba

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