9 de setembro de 2009

Paternidade na adolescência: “um acidente catastrófico”


Desde a infância, meninos e meninas adotam posições frente aos papéis sexuais da paternidade e da maternidade. Meninas são estimuladas à simular, nas brincadeiras de casinha, as funções exigidas na maternidade. Meninos são convencidos de que essas brincadeiras não lhes competem. Coisas de meninos são futebol, carros e jogos eletrônicos. Brincar com bonecas ou simular a família, nem pensar!

Na adolescência, com o furor hormono-sexual apoiado em investimentos afetivos, os rapazotes buscam garotas para compromissos emocionais e aproximações íntimas, que logo evoluem para relações sexuais. Quando se começa basta haver uma oportunidade: pode ser no sofá da sala, na escadaria do prédio, numa rua escura e deserta, etc. Como não há uma prévia preparação para a paternidade, os riscos de assumir uma vida sexual são minimizados pelos púberes. Como em muitos casos são os garotos que detém as rédeas da relação, a prevenção sexual é ignorada ou se torna responsabilidade da garota. Caso ela venha a engravidar será culpa dela que não tomou os anticoncepcionais, como pensam muitos adolescentes. O anticoncepcional se torna mais interessante que a camisinha porque o uso do preservativo exige a interrupção do sexo e reduz o prazer da penetração, assim “em nome do prazer, se ela engravidar a culpa foi dela porque não tomou”.


Segundo o médico e psicoterapeuta Içami Tiba, quando ocorre uma gravidez, o jovem pai por falta de condições psicológicas, sociais e econômicas acaba “sumindo”. Ele não corresponde à sua responsabilidade: ou nega ser o pai, ou abandona a parceira grávida, ou some e manda dinheiro de vez em quando, ou faz o papel do “bonzinho pobre”, ou na melhor das situações, entrega o bebê para que seus pais cuidem. E a pior, quando ele diz “o que você decidir e fizer está bom para mim!”. Abre-se, desta forma, o espaço para o abortamento da gestação, o que mostra no adolescente maior envolvimento com a namorada do que com a gravidez. Para Içami Tiba, muitos que assumiram a responsabilidade pela gravidez da namorada, intimamente estavam doidos para cair fora.


Como escrevi a algumas semanas sobre a gravidez na adolescência e conclui que a prevenção é a grande solução, mas que quando “acontece” o melhor fruto deriva das tomadas de responsabilidade para fazer do feto uma criança imprevista mas não indesejada, lembro aqui que a sexualidade humana está altamente desvendada e todos tem acesso ela. Seja na escola com a ajuda de professores, seja via internet e na própria mídia. Apesar desta última inverter muitas idéias. Os próprios pais precisam olhar para a afloração da sexualidade de seus filhos desde a infância. Claro que prevenção assim não existe, mas a função educativa e informativa da família não deve ser usada após o derramamento do leite. Ulisses Nascimento, graduando em Psicologia pela Universidade Estadual da Paraíba.
-

Ulisses Nascimento, graduando em Psicologia pela Universidade Estadual da Paraíba

Nenhum comentário: