1 de outubro de 2009

Homossexualidade, tão diversa como uma performance de teatro


Esta semana tive a oportunidade de assistir um espetáculo de teatro, intitulada “A mar aberto”. Segue uma breve resenha: A peça do coletivo “Atores à deriva”, sob direção de Henrique Fontes, conta a história do Capitão José Hermílio, pescador responsável por uma pequena nau, com mais de 30 anos de experiência em viver da pesca. Em um dos seus dias de trabalho, José conhece Júlio de Joana, garoto de apenas 19 anos que largou a faculdade para se dedicar à pescaria. José se enamora por Júlio e acredita que esse desejo arrebatador e inesperado é fruto das "astúcias do demônio". A narrativa é construída em cima da tormenta e do paradoxo que José Hermílio vive com essa paixão.


Essa homossexualidade vivida pelos personagens é bem peculiar e foi apenas nos de 1970 com trabalhos de Michel Foucault e John Boswell que se discutiu a diversidade de uso da sexualidade, em especial da homossexualidade. Nesta lógica, das homossexualidades “e não mais da homossexualidade, para significar que esta não era mais uma estrutura imutável, masum componente multiforme da sexualidade humana”, diz Elizabeth Roudinesco, socióloga francesa.

Em pesquisa realizada com homossexuais que se descobriram gays após estarem casados, Eduardo Saraiva (no livro: Conjugalidades, Parentalidades e identidades lésbicas, gays e travestis) argumenta que nos casamentos estes homens não tinham uma significação bem estabelecida de sua sexualidade e muitos chegavam ao casamento não por desejo e amor a suas esposas, mas pelas necessidades e pelas cobranças sociais de se constituir famílias. As identificações afetivo-sexual com um universo heterossexual ocorriam pelas pressões daquilo que era esperado para eles e assim garantiam uma estabilidade e coerência de suas vida. Mas, em momentos que se conheciam melhor e que havia estagnação da vida afetiva com suas mulheres, surgiam conflitos que culminavam em novas ressignificações quanto a seus desejos e seu panorama sexual se invertia para ótica homossexual. Foi o que suscitou acontecer com o Capitão José Hermílio diante de Júlio.

Temos que considerar que os homossexuais ou as habilidades de homossexuais tiveram uma importância fundamental para a fundação da nossa cultura. Desde os romanos na política e na guerra, as artes renascentistas e a música, da erudita à popular, grandes gênios eram de orientação homossexual.



Ulisses Nascimento, graduando em Psicologia

Um comentário:

Anônimo disse...

Gostei do artigo, apenas uma ressalva para a maneira como Ulisses o finaliza, pois fica parecendo que nossa cultura tem bases sólidas na homossexualidade. Concordo que grandes gênios eram homossexuais, mas isso é só um detalhe. Cuidado para não cair no reducionismo tão difundido de que "os homossexuais são inteligentes", até parece que outras pessoas não são. De qualquer maneira parabéns por tão interessante tema. A (s) Homossexualidade (s) precisa ter mais espaços para discussão nos blogs. Obrigado