23 de junho de 2007

Ouvir sempre

O artigo 14° do Código de Ética do Jornalista diz que se deve:

Ouvir sempre, antes da divulgação dos fatos, todas as pessoas objeto de acusações não comprovadas, feitas por terceiros e não suficientemente demonstradas ou verificadas;

Tratar com respeito a todas as pessoas mencionadas nas informações que divulgar.

Aqui na Paraíba – e quando me refiro à Paraíba especificamente, o faço por não conhecer tão de perto o que os outros Estados fazem em relação à imprensa, e não por considerar que aqui é pior ou melhor do que qualquer outro lugar – podemos observar uma distorção na visão do que sejam as palavras ouvir, apurar e comprovar.
Lembro de um caso que ocorreu há alguns anos, quando um órgão do Estado promovia um concurso público. Um dos candidatos perguntou a um dos funcionários da instituição a respeito da logística e da organização do evento. O funcionário respondeu simplesmente que em sua opinião, caberia mais um pouco de disciplina e ordem.
No jornal de domingo de um conhecido órgão de comunicação do Estado, saiu uma matéria de uma página inteira a respeito do concurso com declarações assinadas pelo funcionário estadual. Em nenhum momento o repórter se identificou, nem pediu declarações formais, nem tampouco o funcionário foi questionado se gostaria de ter seu nome exposto num jornal de domingo. Isso lhe custou uma transferência e uma advertência.
Outro fato que merece ser destacado diz respeito aos programas policiais que são empurrados ao telespectador em plena hora do almoço. Cabeças estouradas, membros arrancados, corpos estirados no chão. Pais e filhos desesperados e suspeitos sendo tratados como culpados antes mesmo de um julgamento válido. Nesses casos específicos, o que se percebe é uma total falta de respeito tanto com o telespectador, quanto com os familiares, vítimas e suspeitos. Sim, até porque a nossa Constituição garante que o suspeito seja tratado como inocente até que se prove o contrário.
Jorge Claudio Ribeiro, que é Jornalista, professor da PUC-SP e autor de Sempre alerta – condições e contradições do trabalho jornalístico, diz que “Até jornalistas engajados na luta ética caem com freqüência em outra armadilha, que é considerar-se uma espécie de caubói solitário e juiz incorruptível”.
Não, o papel de julgar não é nosso. A nós cabe apurar e denunciar. Falar a verdade e deixar que o público estabeleça um opinião própria a respeito do assunto.
Infelizmente, aqui ainda se faz um jornalismo baseado em boatos. Não é raro que nas redações dos jornais impressos, online, radiofônicos e televisivos as informações sejam transmitidas aos apresentadores e as redatores finais sem nenhuma checagem mais apurada.
Também é de conhecimento geral no meio jornalístico, pelo menos um site de notícias que simplesmente inventa histórias, cria personagens e aumenta fatos de forma totalmente abusiva.
O que o cidadão paraibano lê, ouve e assiste e acessa hoje em dia, deve ser mensurado de forma bastante complexa. São poucos os profissionais que realmente se importam em cumprir seu dever de informar se utilizando de um mínimo de senso de ética.

Colaboração de Tatyana Valéria Barbosa de Melo, formanda de Comunicação Social

http://leiasepuder.blogspot.com/2007/06/artigo-tica-no-jornalismo.html
http://meupapelnomundo.blogspot.com/melqui

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